Não mais que abandono
sabeis o meu destino: não prolongueis, por isso,
mais que as palavras e as demoras. abandonai-me
nas longínquas pedras junto da água e deixai-me
morrer profundamente como se a morte não bastasse.
nao há enganos: por mim é outro que do aroma do
mar colhe a pequena imagem que por outro se repete
como se não bastasse uma vez adormecer no eclipse
mas tudo ao abandono nos condenasse, para sempre.
sabeis o meu destino e sabeis que ele não se perde
em mim mas em outro que por mim morre lentamente,
como se a morte não bastasse. é nesse outro que vivo
e nesse outro perco-me a mim mesmo enquanto peixes
e cores do inverno invadem a casa, perdidamente, para
poder encontrar abandono, não mais que abandono.
Francisco José Viegas, Todas as Coisas
21 março 2008
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