14 abril 2008

A cadência do coração


1.
De todas as promessas feitas
fica-nos na boca o sabor leve
de um dia as cumprirmos
como o beijo pelo qual esperámos em noites de insónia
e que guardámos docemente no peito

sonhamos com cidades sombrias
no silêncio distante do futuro
para onde possamos fugir quando tudo se desmorona

acordamos e adormecemos na neblina espessa destes dias
mãos geladas o teu corpo na penumbra

construimos listas e mapas
vastas cartografias do tempo
por onde os nossos gestos não passam

esquecemos o que fez de nós murmúrios
paisagens abandonadas vestígios de paixão

acordamos uma e outra vez
no incêndio lento do amanhecer
sem saber ainda o que a luz fará de nós


2.
Não sabemos por vezes o que a luz fará de nós
quando o dia começa sem aviso
e nos acorda para o frágil passar das horas

temos (nesses momentos) a certeza
de nenhuma solidão nos poder devastar novamente
enquanto as minhas lágrimas se perdem na pele do teu ombro

esperamos pacientemente pelo anoitecer
com suas vozes surdas fumo dos cigarros
fragmentos de uma memória mutilada
o ruído da morte que não olhamos nos olhos

nesses momentos escutamos a cadência do coração
batendo do meu peito para o teu
no espaço restrito deste amor
onde se esconde a sombra da noite
e a intensa respiração dos nossos corpos

1 comentário:

Anónimo disse...

as lágrimas que derramas na pele de um ombro. confundem-se com a corrente sanguínea. o que é bom *