ao meu pai
1
Sempre que regressavas
a casa enchia-se de um silêncio espesso
e os nossos passos ecoavam nos corredores
como se procurassemos não tocar no chão
olhavamos a mesa posta para o jantar
a porta que ficava sempre aberta
as luzes deixadas acesas
a roupa espalhada no quarto
nunca tinhas um gesto ou uma palavra
nunca te lembravas como se sorri
ou como se constrói um mundo de sonhos na juventude
eu não sabia como medir a distância entre nós
nem como atravessar esse espaço negro
cheio de ausências e coisas por dizer
por isso sempre que regressavas
deixávamos o silêncio cair sobre a casa
e eu fechava-me no fundo de mim própria
para não ver
quanto de ti passava por trás dos meus olhos
1 comentário:
Soberbo. É um arquétipo.
Enviar um comentário