19 maio 2008

Sempre que regressavas

ao meu pai

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Sempre que regressavas
a casa enchia-se de um silêncio espesso
e os nossos passos ecoavam nos corredores
como se procurassemos não tocar no chão

olhavamos a mesa posta para o jantar
a porta que ficava sempre aberta
as luzes deixadas acesas
a roupa espalhada no quarto

nunca tinhas um gesto ou uma palavra
nunca te lembravas como se sorri
ou como se constrói um mundo de sonhos na juventude

eu não sabia como medir a distância entre nós
nem como atravessar esse espaço negro
cheio de ausências e coisas por dizer

por isso sempre que regressavas
deixávamos o silêncio cair sobre a casa
e eu fechava-me no fundo de mim própria
para não ver
quanto de ti passava por trás dos meus olhos

1 comentário:

Luis Filipe Gomes disse...

Soberbo. É um arquétipo.